A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é uma ciência muito antiga e dotada de conhecimento fundamentado na experiência empírica acumulada. A MTC tem uma visão da prevenção, do diagnóstico e do tratamento, baseada em várias teorias relacionadas com a natureza e o corpo humano (Yuan, et al., 2011).
A fitoterapia chinesa começa a ser mais divulgada e, por consequência, mais utilizada, por todos os que procuram uma terapêutica alternativa ou complementar à Medicina Convencional (Keji e Hao, 2003).
Qi é o conceito mais básico e ao mesmo tempo mais complexo de descrever na Medicina Tradicional Chinesa. Tanto pode ser material como imaterial, auxiliando a relação entre o universo e o ser humano. Qi é a uma energia que se vai manifestar simultaneamente a nível físico e espiritual, podendo sofrer vários estados de agregação (Maciocia, 2001).
Qi é a substância principal quer do universo quer do corpo humano, que vai fazer com que haja formação do corpo humano, crescimento e ação (Yao, et al., 2013).
As funções básicas de Qi são:
- Promover o crescimento e o desenvolvimento do organismo humano e acelerar a formação e circulação de sangue;
- Ativar o aquecimento para aumentar o calor corporal e manter o equilíbrio da temperatura;
- Proteger contra patogênicos;
- Assegurar, controlar e conduzir a secreção de materiais líquidos como o suor, a urina, a saliva;
- Metabolizar as principais substâncias como a energia vital, Xie / Sangue e Jinye.
Teoria de Yin Yang
Yin Yang (Maciocia, 2001)
Na China, existem três religiões: o confucionismo, o budismo e o taoismo. O confucionismo provém de Confúcio que englobou valores sociais, éticos, políticos, morais e religiosos na religião chinesa. O budismo foi a religião que se implementou com maior rapidez na cultura chinesa, pois tem princípios como a reencarnação da vida, altruísmo, bondade, generosidade e compaixão. O taoismo é a religião mais presente na cultura chinesa, dotada de misticismos e metafisica. Referencia-se o taoismo como uma corrente de grandes movimentos, empírica (taoismo filosófico), dotada de passado (influências budistas - taoismo religioso), dinâmica, uma força vital, inexprimível no que se refere a palavras e atos (Herne, 2001; Weber, 1951).
O Taoismo age de acordo com a natureza envolvente, entende que as coisas têm um ciclo de vida, um equilíbrio, são interdependentes, dotadas em constante mudança, de dualismo. O seu princípio básico é a teoria de Yin Yang, a filosofia básica da Medicina Tradicional Chinesa.
O Yin Yang, é o sinônimo de dualismo, de equilíbrio, de interdependência, de transformação. Quando se remete este equilíbrio para a Medicina Tradicional Chinesa, está associado o equilíbrio do corpo humano e, para que haja esse equilíbrio, tem que ter presente o Yin Yang (Guoan Luo, et al., 2012; Legge, 2014).
O Yin inicialmente significava o lado sombreado da colina, Yang indicaria o lado ensolarado da colina.
A Figura indica que o branco é representando pelo Yang e o preto pelo Yin. Em ambos existe uma semente. Assim verifica-se que Yin se encontra dentro de Yang e Yang encontra-se dentro de Yin. Nenhum fenômeno que ocorra na natureza nem no corpo humano ocorre isoladamente, encontram-se interligados, em mudança, em equilíbrio dinâmico (Liu, 2010; Ko e Leung, 2007; Yuen e Gohel, 2008).
Yin Yang são opostos, mas nada é totalmente Yin nem Yang. Estes têm uma interação mútua, onde se verifica movimentos cíclicos com interação com a natureza. Assim pode-se ter fenômenos em Yin: o inferior, o frio, a Água, a matéria a contração, e em Yang: o superior, o quente, o Fogo, a energia, a expansão e o funcional.
Teoria dos cincos elementos / Teoria Wu Xing
Na Medicina Tradicional Chinesa a teoria dos cinco elementos é de difícil compreensão. Esta teoria engloba interações dos diversos elementos, e a sua aplicação vai dar início a uma nova era da Medicina Tradicional Chinesa. A aplicação dessa teoria em MTC vem da altura do período do reino dos combatentes. Os Filósofos e os Anciães utilizavam o seu mundo intuitivo e dedutivo para conseguir extrair conclusões políticas.
Os curandeiros usavam as suas técnicas intuitivas em conjunto com a natureza para o tratamento das pessoas. Neste período, a teoria dos 5 elementos e a sua aplicação em Medicina Tradicional Chinesa esteve em uso, excluindo assim a teoria do Xamanismo (manifestações de mediunidade, utilizado em práticas religiosas e mágicas, com intuito de cura, transe e transmutação) ( Maciocia, 2001; Mollier, 2008; Stern, 2014).
Estes são representados por: Fogo, a Água, Madeira, Terra, e o Metal. (Chia, 1989).
Consiste nas relações entre as quatro estações e a Terra, com os planetas do sistema solar. Estão relacionados com os pontos cardiais, inter-relacionam -se com a teoria de Yin e Yang e principalmente estão relacionados com os cinco órgãos principais para MTC (Chia, 1989).
1. Madeira
2. Fogo
3. Metal
4. Água
5. Terra
A farmacopeia chinesa, é um dos pontos principais, pois é aqui que todas as plantas são caracterizadas, com o sabor, propriedades térmicas, ação energética, meridianos e órgãos associados, forma, cor, toxicidade ou inocuidade, e o seu nível de ação. Com ajuda da farmacopeia podem-se catalogar as plantas de acordo com a sua ação,
Na medicina ocidental o medicamento é composto por um princípio ativo e os excipientes. Os excipientes, de modo geral, são usados para veicular o princípio ativo e facilitar a sua ação no local alvo de tratamento.
Na fitoterapia chinesa observa-se uma organização das fórmulas herbáceas parecida.
Existe o Imperador (comparando é o princípio ativo), o responsável pela ação principal; o Ministro, o Assessor e o Coordenador (no medicamento são excipientes) aqui têm várias ações: a potenciação do efeito desejado (o Ministro), diminuição da toxicidade de alguma planta (Assessor), dar as indicações para o local de ação (Coordenador).
Referências Bibliográficas
Oliveira, A. S. M., Fitoterapia Chinesa, Porto; 2016
Beijing, S. (1980). Essentials of Chinese Acunpuncture. Beijing, Beijing Foreign Languages Press.
Chia, M., (1989). Fusion of the Five Elements. Tailândia, Universal Tao Publications.
Clinic, T., (2013). Medicina tradicional china: el triple calentador. [Em Linha] Disponivel em: <http://www.tcmclinic.es/medicina-tradicional-china/medicina-tradicional-china-el-triple-calentador/> [Consultado em 03/03/2016].
Copasso, F. et al. (2003). Phytotherapy - A Quick Reference to Herbal Medicine. Berlin, Springer - Verlag.
Eckman, P., (2002). The theory of Oriental Medicine. Em: C. M. Cassidy e M. Micozzi, (Eds.). Contemporary Chinese Medicine and Acunpuncture. Filadelfia, Churchill Livingstone, pp. 12-41.
Guoan Luo, Y. W., Liang, Q. e Liu, Q., (2012). Systems Biology for traditional Chinese Medicine. Nova Jersia, John Wiley e Sons, Inc.
Heinrich, M., et al. (2012). Fundamentals of pharmacognosy and phytotherapy. 2ª ed. China, Churchill Livingstone Elsevier.
Hempen, C. H. e Fischer, T., (2007). A Materia Medica for Chinese Medicine - Plants, minerals and animal products. 2ªed. Londres, Churchill Livingstone Elsevier.
Herne, R., (2001). Magick, Shamanism & Taoism - The I Ching in ritual & Meditation. St Paul, Minnesota, Llewellyn Publications.
Hopwood, V., (2004). Acupuncture in Physiotherapy- Key Concepts and Evidence-Based Practice. Londres, Butterworth Heinemann - Elsiver.
Hui, Y., (2001). Approaching Traditional Chinese Medicine: Inheritance and Exploration. Em: Y. Lin, (Eds.). Drug Discovery and Traditional Chinese Medicine ( Science, Regulation and Globalization). Nova York, Springer Science + Business Media, LLC, pp. 1-12.
Jin, G.-Y., Jin, J.-J. X. e Jin, L. L., (2007). Contemporary Medical Acupuncture - A Systems Approach. China, Higher Education Press- Springer.
Jr, J. D. A. e Lien, E. J., (2013). Traditional Chinese Medicine. Cambridge, The Royal Society of Chemistry - RSC Publishing.
Kaptchuk, T. J., (2000). Chinese Medicine - The web that has no weaver. 1ª ed. Londres, Sydney, Rider.
Keji, C. e Hao, X., (2003). The integration of traditional Chinese medicine and Western medicine. European Review, 11(2), pp. 225-235.
Ko, K. M., Mak, D. H., Chiu, P-Y. e Poon, M. K., (2004). Pharmacological basis of ‘Yang-invigoration’ in Chinese medicine. Trends in Pharmacological Sciences, Volume 25, pp. 3-6.
Ko, K. M. e Leung, H. Y., (2007). Enhancement of ATP generation capacity, antioxidant activity and immunomodulatory activities by Chinese Yang and Yin tonifying herbs. Chinese Medicine, 2(1), pp1-10.
Law, K. M. Y. e Kesti, M., (2014). Yin Yango and Organizational Performance - Five Elements for Improvement and Sucess. 1ªed. Londres Springer - Verlag .
Legge, D., (2014). Yin and Yang Surfaces: An Evolutionary Perspective, Journal of Acupuncture anda Meridian Studies, 7(6) pp. 281-290.
Leung, P-C. e Xue, C. C-l., (2005). Chinese Medicine - Modern Pracitce. Singapura, World Scientific Publishing Co.Pte, Ltd..
Liu, Z. e Liu, L., (2010). Essentials of Chinese Medicine - Vol.2. Londres, Springer - Verlag.
Liu, Z. e Lui, L., (2010). Essentials of Chinese Medicine - Vol I. Londres, Springer- Verlag.
Lotus, S., (2001). Sacred Lotus - Chinese Medicine. [Em linha] Disponivel em: <https://www.sacredlotus.com/go/chinese-herbs> [Consultado em 07/04/2016].
Lui, C., Tseng, A. e Yang, S., (2005). Chinese Herbal Medicine - Modern Apllications of traditional formulas. Nova York, CRC Press LLC.
Maciocia, G., (2001). Los Fundamentos de la Medicina China. Cascais, Aneid Press.
Mollier, C., (2008). Buddism and Taoism, face to face - Scripture, Ritual and Iconographic exchange in Medieval China. Honolulu, University of Hawai'i Press.
Ping, L., (2002). El gran libro de la Medicina China. 2ª ed. Barcelona, Ediciones Martinez Roca, S. A..
Ross, J., (2003). Combining Western Herbs and Chinese Medicine. Nova York, Greenfields Press.
Stern, F. L., (2014). Reflexões sobre o uso da Nomenclatura "Medicina Tradicional" pela Naturologia. Cadernos de naturologia e terapias complementares, 3(4), pp. 53-63.
Stux, G. e Pomeranz, B., (1998). Basics of Acupuncture. 4ª ed. Canada, Springer-Verlag.
Thambirajah, R., (2009). Cosmetic Acupuncture. A Traditional Chinese Medicine Approach to Cosmetic and Dermatological Problems. Filadélfia, Churchill Livingstone - Elsevier.
Tierra, M. e Tierra, L., (1998). Chinese Traditional Herbal Medicine - Materia Medica and Herbal Resource - Vol.1. USA, Library of Congress.
Tierra, M. e Tierra, L., (1998). Chinese Tradicional Medicine - Materia Medica and Herbal Resource Vol.2. Inglaterra, Lotus Press.
Wang, R. R., (2006). Internet Encyclopedia of Phylosophy - YinYang. [Em linha] Disponivel em: <http://www.iep.utm.edu/yinyang/> [Consultado em 03/03/2016].
Wang, T., (2002). Chinese Herbal Medicine. Em: C. M. Cassidy e M. Micozzi, (Eds.). Contemporary Chinese Medicine. Filadelfia, Churchill Livinstone, pp. 84-103.
Weber, M., (1951). The Religion of China - Confucianism and Taoism. Illinois, The Free Press.
Wu, J.-N., (2005). An Illustrated Chinese Materia Medica. Nova York, Oxford University Press.
Yao, W., Yang, H. e Ding, G., (2013). Mechanisms of Qi - blood circulation and Qi deficiency syndrome in view of blood and intersititial fluid circulation. Journal of Traditional Chinese Medicine, 33(4), pp. 538-544.
Yuan, C-s., Bieber, E. J. e Bauer, B. A., (2011). Traditional Chinse Medicine. Florida, CRC Press - Taylor & Francis Group .
Yu, C. S. e Fei, L., (1993). A Clinical Guide to Chinese Herbs and Formulae. Edinburgo, Churchill Livingtone.
Yuen, J. e Gohel, M., (2008). The dual roles of Ganoderma antioxidants on urothelial cell DNA under carcinogenic attack. Journal of Ethnopharmacology, 118(2), pp. 324-330.
Zhang, G., (2002). Acupunctur and Moxibustion. Em: C. M. Cassidy e M. Micozzi, (Eds.). Contemporary Chinese Medicine and Acupucture. Filadelfia, Churchill Livingstone, pp. 60-83.
Zhang, Y. et al., (2014). Age-related changes in prevalence and symptom characteristics in kidney deficiency syndrome with varied health status: a cross - sectional observational study. Journal of traditional Chinese medical sciences, 1(1), pp. 20-27.
